sábado, 17 de abril de 2010

A Verdade sobre as Relações Internacionais

Escolher a profissão é muito difícil. Dia desses uma aluna me explicava que havia decidido cursar Engenharia do Petróleo porque o negócio dava muito dinheiro. A lógica, vejam vocês, é definir o futuro com base no mercado.

Outro curso que tem angariado cada vez mais adeptos é o de Relações Internacionais. O troço, por conseqüência, tem atraído minha atenção. Dei uma olhada na grade curricular da graduação, e, confesso, fiquei muito entusiasmado. O aluno é submetido a aulas como “Problemas da Guerra e da Paz”, “ Aventura Sociológica”—este é exatamente o título da disciplina—, e “ Análise de Política Externa”.

A última matéria foi a que mais me fascinou. Por isso, fui dar uma olhada na ementa. Eis o que a PUC-RJ apresenta:

Revolução Behaviorista e surgimento da sub-área de análise de política externa. Teorias e pré-teorias de política externa. Processo decisório. Modelo racional. Modelo organizacional. Modelo de política burocrática. Jogos de dois níveis. Análise cognitiva. Regimes políticos e conteúdo de política externa. Situações de crise. Atores transnacionais e política externa.

Não posso descrever, meus amigos, a minha decepção. Nada sei sobre ‘jogos de dois níveis’, muito menos sobre a ‘revolução behaviorista’, mas de uma coisa tenho certeza: são meros apêndices, notas de rodapé, no que deveria ser um verdadeiro curso de Relações Internacionais para estudantes brasileiros. Suprirei, portanto, a imperdoável lacuna. Acompanhem-me.

Todo diplomata deveria saber que a política externa brasileira não se faz nos grandes salões, nos portentosos palácios, com gente engravatada. Toda a nossa política internacional vem sendo conduzida, desde o grito da Independência, pelos anônimos macumbeiros deste país. Eis a verdade.

Na chapada diamantina, por exemplo, logo ao fim da guerra, um médium durante uma sessão de Jarê—uma mistura de Umbanda e Candomblé—estremeceu subitamente e incorporou uma entidade. O espírito, vindo lá de Aruanda, deu seu nome : Caboclo Italiano.

Italiano não une com inglês
Ele não une com Japão...
Italiano só acredita
Naquilo quem tem na mão!

Tal exemplo de reconciliação não encontra paralelo na história oficial das Relações Internacionais. No entanto, na história dos terreiros brasileiros, outro grande exemplo de diplomacia metafísica é o registro da primeira incorporação, em 1948, do Caboclo Guerreiro da Alemanha, falangeiro de Ogum:

Guerreiro da Alemanha
Quem é? Quem é?
É seu Ogum Dilê
Confirmando a sua fé...

Eis, senhores, uma verdadeira Liga das Nações a unir iorubás, alemães, brasileiros e italianos. Conta-se—e não posso confirmar a história—que o Caboclo Italiano teria psicografado, na língua de Dante, um poema com tercetos hendecassílabos, com rimas no esquema ABA, BCB, CDC, VZV, Z, e o encaminhou a Nelson Mandela, o que teria, dizem, inspirado o presidente a conduzir uma reconciliação pacífica no pós-apartheid.

Outro grande exemplo é a incorporação, nos terreiros do Maranhão, todos os anos, de grandes expoentes da História como Dom Luis de França, Marquês de Pombal, Os doze pares de França, A família real da Turquia, Dom João, e Rei Sebastião—volto a falar do assunto em breve. Há, percebam, um diálogo diplomático que vai além das fronteiras do internacional, e toca o profundo sobrenatural.

Nos candomblés de caboclo de Salvador, também há registros da incorporação de boiadeiros estrangeiros:

Boa-Noite pra quem é de boa-noite
Bom-dia pra quem é de bom-dia
A benção, meu tatá, a benção,
Seu boiadeiro é rei lá na Hungria!

Por aí percebemos como a o curso de R.I. está absolutamente fora da realidade. Feliz o dia em que os senhores reitores atentarem para o absurdo que está sendo perpetrado nas cátedras deste país; feliz o dia em que a profissão seja apenas sopro dos encantos.
 
 
 

3 comentários:

Diego Moreira disse...

Estou imaginando a mudança do nome da PUC para PUM, Pontifícia Universidade Macumbeira. Hahahah! Só assim pra ter tais caboclos baixando pra dar aula nos cursos de RI.

Abraço!

Luiz Antonio Simas disse...

Isso sem falar na decisiva presença de Ogum nos campos do Humaitá, praticamente definindo o furdunço na região do Prata.

Alan disse...

Diegão,

Acho que é um bom começo...Depois é só plantar o axé e segurar a guma!

Mestre Simas,

a intervenção de Ogum na guerra do Paraguai foi pra empalidecer os esforços de todos os olímpicos na Ilíada.